Portal de Conferências da UFRJ, IV Jornada Interdisciplinar de Som e Música no Audiovisual 2019

Reflexões sobre uma escuta visual presente na criação sonora em tempo real

Marina Mapurunga de Miranda Ferreira

Resumo


Nos primeiros cinemas, o som era reproduzido ao vivo no próprio espaço onde era realizada a exibição, seja por uma escuta direta (onde a fonte sonora era visualizada) ou por uma escuta acusmática (quando a fonte sonora era escondida do público, por exemplo: com os sonoplastas, músicos ou locutores atrás da tela de cinema). Arlindo Machado (1997, p. 158) apresenta várias práticas sonoras em tempo real no cinema “mudo” com o uso de partituras musicais que acompanhavam os rolos de filmes, de dispositivos de sonoplastia montados na sala de exibição, de fotoplayers (pianos que produziam não só música, mas também efeitos sonoros), de dublagem das vozes dos atores, entre outros usos. Além dessa diversidade de procedimentos para a produção sonora em tempo real, também havia uma intenção sonora na própria tela, em imagens visuais que remetiam a imagens sonoras. Por exemplo, na associação de objetos aos sons, em A Greve (1924), Eisenstein insere alternadamente planos fechados de uma sirene. Era possível “ouvir” o som da sirene mesmo não havendo fisicamente seu som no ambiente de exibição. Michel Chion (1994, p. 26), comenta que esse era um dos métodos que o cinema mudo desenvolveu para exprimir os sons, mostrando “em plano fechado a imagem de sua fonte – sino, animal, instrumento muscal – como um 'insert' retornando periodicamente” (CHION, 1994, p. 26). Poderíamos, assim, considerar a existência de uma escuta visual do espectador, que pode ser acionada por associações visuais. Os filmes “mudos” do diretor Stan Brakhage (1933-2003) e alguns trabalhos relacionados à música visual (sem a música propriamente dita), como as pinturas de Wassily Kandinsky (1866-1944), estão carregados destas associações. Assim como esta escuta visual ocorre na fruição da obra, ela ocorre também em sua criação, quando um sound design associa um som à imagem projetada. Nosso objetivo é refletir sobre estas associações, logo, sobre essa escuta visual em uma criação sonora em tempo real no âmbito do cinema realizado ao vivo.

 

 

Referências

CARVALHO, Ana; LUND, Cornelia (orgs). The Audiovisual Breakthrough. Berlin: Ana Carvalho, Cornelia Lund and fluctuating images, 2015.

 

CHION, Michel. Le son au cinéma. Paris: Éditions de l'Etoile/Cahiers du Cinema, col. Essais, 1994.

COBUSSEN, Marcel. The field of musical improvisation. Netherlands: Leiden University Press, 2017.

MACHADO, Arlindo. Pré-cinemas & Pós-cinemas. Campinas, SP: Papirus, 1997.